Hegel e sua análise sobre Kant , inatistas e empiristas

quinta-feira, 5 de março de 2009

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Um filósofo alemão do século XIX, Hegel, ofereceu uma solução para o problema do inatismo e do empirismo posterior à de Kant.

Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo. A todos endereçou a mesma crítica, qual seja, a de não haverem compreendido o que há de mais fundamental e de mais essencial à razão: a razão é histórica.

De fato, a Filosofia, preocupada em garantir a diferença entre a mera opinião (“eu acho que”, “eu gosto de”, “eu não gosto de”) e a verdade (“eu penso que”, “eu sei que”, “isto é assim porque”), considerou que as idéias só seriam racionais e verdadeiras se fossem intemporais, perenes, eternas, as mesmas em todo tempo e em todo lugar. Uma verdade que mudasse com o tempo ou com os lugares seria mera opinião, seria enganosa, não seria verdade. A razão, sendo a fonte e a condição da verdade, teria também que ser intemporal.

É essa intemporalidade atribuída à verdade e à razão que Hegel criticou em toda a Filosofia anterior.

Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel não está, de modo algum, dizendo que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que cada época não alcança verdades universais. Não. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma vítima do tempo, que lhe roubaria a verdade, a universalidade, a necessidade. A razão não está na História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.

Hegel também fez uma crítica aos inatistas e aos empiristas muito semelhante à que Kant fizera. Ou seja, inatistas e empiristas acreditam que o conhecimento racional vem das próprias coisas para nós, que o conhecimento depende exclusivamente da ação das coisas sobre nós, e que a verdade é a correspondência entre a coisa e a idéia da coisa.

Para o empirista, a realidade “entra” em nós pela experiência. Para o inatista a verdade “entra” em nós pelo poder de uma força espiritual que a coloca em nossa alma, de modo que as idéias inatas não são produzidas pelo próprio sujeito do conhecimento ou pela própria razão, mas são colocadas em nós por uma força sábia e superior a nós (como Deus, por exemplo). Assim, o conhecimento parece depender inteiramente de algo que vem de fora para dentro de nós. No caso dos inatistas, depende da divindade; no caso dos empiristas, depende da experiência sensível.

Inatistas e empiristas se enganaram por excesso de objetivismo, isto é, por julgarem que o conhecimento racional dependeria inteiramente dos objetos do conhecimento.

Mas Kant também se enganou e pelo motivo oposto, isto é, por excesso de subjetivismo, por acreditar que o conhecimento racional dependeria exclusivamente do sujeito do conhecimento, das estruturas da sensibilidade e do entendimento.

A razão, diz Hegel, não é nem exclusivamente razão objetiva (a verdade está nos objetos) nem exclusivamente subjetiva (a verdade está no sujeito), mas ela é a unidade necessária do objetivo e do subjetivo. Ela é o conhecimento da harmonia entre as coisas e as idéias, entre o mundo exterior e a consciência, entre o objeto e o sujeito, entre a verdade objetiva e a verdade subjetiva. O que é afinal a razão para Hegel?

A razão é:

1. o conjunto das leis do pensamento, isto é, os princípios, os procedimentos do raciocínio, as formas e as estruturas necessárias para pensar, as categorias, as idéias – é razão subjetiva;

2. a ordem, a organização, o encadeamento e as relações das próprias coisas, isto é, a realidade objetiva e racional – é razão objetiva;

3. a relação interna e necessária entre as leis do pensamento e as leis do real. Ela é a unidade da razão subjetiva e da razão objetiva.

Por que a razão é histórica?

A unidade ou harmonia entre o objetivo e o subjetivo, entre a realidade das coisas e o sujeito do conhecimento não é um dado eterno, algo que existiu desde todo o sempre, mas é uma conquista da razão e essa conquista a razão realiza no tempo. A razão não tem como ponto de partida essa unidade, mas a tem como ponto de chegada, como resultado do percurso histórico ou temporal que ela própria realiza.

Qual o melhor exemplo para compreender o que Hegel quer dizer?

Vimos que os inatistas começaram combatendo a suposição de que opinião e verdade são a mesma coisa. Para livrarem-se dessa suposição, o que fizeram eles? Disseram que a opinião pertence ao campo da experiência sensorial, pessoal, psicológica, instável e que as idéias da razão são inatas, universais, necessárias, imutáveis.

Os empiristas, no entanto, negaram que os inatistas tivessem acertado, negaram que as idéias pudessem ser inatas e fizeram a razão depender da experiência psicológica ou da percepção. Ao fazê-lo, revelaram os pontos fracos dos inatistas, mas abriram o flanco para um problema que não podiam resolver, isto é, a validade das ciências.

A filosofia kantiana negou, então, que inatistas e empiristas estivessem certos. Negou que pudéssemos conhecer a realidade em si das coisas, negou que a razão possuísse conteúdos inatos, mostrando que os conteúdos dependem da experiência; mas negou também que a experiência fosse a causa da razão, ou que esta fosse adquirida, pois possui formas e estruturas inatas. Kant deu prioridade ao sujeito do conhecimento, enquanto empiristas e inatistas davam prioridade ao objeto do conhecimento.

Que diz Hegel? Que esses conflitos filosóficos são a história da razão buscando conhecer-se a si mesma e que, graças a tais conflitos, graças às contradições entre as filosofias, a Filosofia pode chegar à descoberta da razão como síntese, unidade ou harmonia das teses opostas ou contraditórias.

Em cada momento de sua história, a razão produziu uma tese a respeito de si mesma e, logo a seguir, uma tese contrária à primeira ou uma antítese. Cada tese e cada antítese foram momentos necessários para a razão conhecer-se cada vez mais. Cada tese e cada antítese foram verdadeiras, mas parciais. Sem elas, a razão nunca teria chegado a conhecer-se a si mesma. Mas a razão não pode ficar estacionada nessas contradições que ela própria criou, por uma necessidade dela mesma: precisa ultrapassá-las numa síntese que una as teses contrárias, mostrando onde está a verdade de cada uma delas e conservando essa verdade. Essa é a razão histórica.

Empiristas, kantianos e hegelianos

Embora Hegel tenha proposto sintetizar a história da razão, considerando, portanto, que inatistas, empiristas e kantianos eram parte do passado dessa história, isso não significa que todos os filósofos tenham aceitado a solução hegeliana como resposta final.

Assim, os empiristas não desapareceram. Reformularam muitas de suas teses e posições, mas permaneceram empiristas. Em outras palavras, persiste, na Filosofia, uma corrente empirista. Foi também o que aconteceu com os filósofos inatistas; o mesmo pode ser dito com relação aos que adotaram a filosofia kantiana. Reformularam teses, acrescentaram novas idéias e perspectivas, mas se mantiveram kantianos.

Há os que aceitaram a solução hegeliana, assim como há os que a recusaram e dos quais falaremos no próximo capítulo.


Extraído do livro: Convite à Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

A solução Kantiana para o problema do empirismo e inatismo

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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A solução kantiana

A resposta aos problemas do inatismo e do empirismo oferecida pelo filósofo alemão do século XVIII, Immanuel Kant, é conhecida com o nome de “revolução copernicana” em Filosofia. Por quê? Qual a relação entre Kant e o que fizera Copérnico, quase dois séculos antes do kantismo?

Vejamos, muito brevemente, o que foi a revolução copernicana em astronomia para, depois, vermos o que foi ela em Filosofia.

A tradição antiga e medieval considerava que o mundo possuía limites (ou seja, o mundo era finito), sendo formado por um conjunto de sete esferas concêntricas, em cujo centro estava a Terra, imóvel. À volta da Terra giravam as esferas nas quais estavam presos os planetas (o Sol e a Lua eram considerados planetas). Em grego, Terra se diz Gaia ou Geia. Como ela se encontrava no centro, o sistema astronômico era chamado de geocêntrico e o mundo era explicado pelo geocentrismo.

A revolução copernicana demonstrou que o sistema geocêntrico era falso e que:

1. o mundo não é finito, mas é um Universo infinito;

2. os astros não estão presos em esferas, mas fazem um movimento (como demonstrará Kepler, depois de Copérnico), cuja forma é a de uma elipse;

3. o centro do Universo não é a Terra;

4. o Sol (como já fora demonstrado por outros astrônomos) não é um planeta, mas uma estrela, e a Terra, como os outros planetas, gira ao redor dele;

5. o próprio Sol também se move, mas não em volta da Terra.

Em grego, Sol se diz Hélios e por isso o sistema de Copérnico é chamado de heliocêntrico, e sua explicação, de heliocentrismo, pois o Sol está no centro do nosso sistema planetário e tudo se move ao seu redor.

Voltemos agora a Kant e observemos o que ele diz.

Inatistas e empiristas, isto é, todos os filósofos, parecem ser como astrônomos geocêntricos, buscando um centro que não é verdadeiro. Parecem, diz Kant, como alguém que, querendo assar um frango, fizesse o forno girar em torno dele e não o frango em torno do fogo.

Qual o engano dos filósofos?

Em lugar de, primeiro e antes de tudo, estudar o que é a própria razão e indagar o que ela pode e o que não pode conhecer, o que é a experiência e o que ela pode ou não pode conhecer; em vez, enfim, de procurar saber o que é a verdade, os filósofos preferiram começar dizendo o que a realidade é, afirmando que ela é racional e que, por isso, pode ser inteiramente conhecida pelas idéias da razão. Colocaram a realidade exterior ou os objetos do conhecimento no centro e fizeram a razão, ou o sujeito do conhecimento, girar em torno deles.

Façamos, pois, uma revolução copernicana em Filosofia: em vez de colocar no centro a realidade objetiva ou os objetos do conhecimento, dizendo que são racionais e que podem ser conhecidos tais como são em si mesmos, comecemos colocando no centro a própria razão.

Não é a razão a Luz Natural? Não é ela o Sol que ilumina todas as coisas e em torno do qual tudo gira? Comecemos, portanto, pela Luz Natural no centro do conhecimento e indaguemos: O que é ela? O que ela pode conhecer? Quais são as condições para que haja conhecimento verdadeiro? Quais são os limites que o conhecimento humano não pode transpor? Como a razão e a experiência se relacionam?

Comecemos, então, pelo sujeito do conhecimento. E comecemos mostrando que este sujeito é a razão universal e não uma subjetividade pessoal e psicológica, que ele é o sujeito conhecedor e não Pedro, Paulo, Maria ou Isabel, esta ou aquela pessoa, este ou aquele indivíduo.

O que é a razão?

A razão é uma estrutura vazia, uma forma pura sem conteúdos. Essa estrutura (e não os conteúdos) é que é universal, a mesma para todos os seres humanos, em todos os tempos e lugares. Essa estrutura é inata, isto é, não é adquirida através da experiência. Por ser inata e não depender da experiência para existir, a razão é, do ponto de vista do conhecimento, anterior à experiência. Ou, como escreve Kant, a estrutura da razão é a priori (vem antes da experiência e não depende dela).

Porém, os conteúdos que a razão conhece e nos quais ela pensa, esses sim, dependem da experiência. Sem ela, a razão seria sempre vazia, inoperante, nada conhecendo. Assim, a experiência fornece a matéria (os conteúdos) do conhecimento para a razão e esta, por sua vez, fornece a forma (universal e necessária) do conhecimento. A matéria do conhecimento, por ser fornecida pela experiência, vem depois desta e por isso é, no dizer de Kant, a posteriori.

Qual o engano dos inatistas? Supor que os conteúdos ou a matéria do conhecimento são inatos. Não existem idéias inatas.

Qual o engano dos empiristas? Supor que a estrutura da razão é adquirida por experiência ou causada pela experiência. Na verdade, a experiência não é causa das idéias, mas é a ocasião para que a razão, recebendo a matéria ou o conteúdo, formule as idéias.

Dessa maneira, a estrutura da razão é inata e universal, enquanto os conteúdos são empíricos e podem variar no tempo e no espaço, podendo transformar-se com novas experiências e mesmo revelarem-se falsos, graças a experiências novas.

O que é o conhecimento racional, sem o qual não há Filosofia nem ciência?

É a síntese que a razão realiza entre uma forma universal inata e um conteúdo particular oferecido pela experiência.

Qual é a estrutura da razão?

A razão é constituída por três estruturas a priori:

1. a estrutura ou forma da sensibilidade, isto é, a estrutura ou forma da percepção sensível ou sensorial;

2. a estrutura ou forma do entendimento, isto é, do intelecto ou inteligência;

3. a estrutura ou forma da razão propriamente dita, quando esta não se relaciona nem com os conteúdos da sensibilidade, nem com os conteúdos do entendimento, mas apenas consigo mesma. Como, para Kant, só há conhecimento quando a experiência oferece conteúdos à sensibilidade e ao entendimento, a razão, separada da sensibilidade e do entendimento, não conhece coisa alguma e não é sua função conhecer. Sua função é a de regular e controlar a sensibilidade e o entendimento. Do ponto de vista do conhecimento, portanto, a razão é a função reguladora da atividade do sujeito do conhecimento.

A forma da sensibilidade é o que nos permite ter percepções, isto é, a forma é aquilo sem o que não pode haver percepção, sem o que a percepção seria impossível. Percebemos todas as coisas como dotadas de figura, dimensões (altura, largura, comprimento), grandeza: ou seja, nós as percebemos como realidades espaciais.

Não interessa se cada um de nós vê cores de uma certa maneira, gosta mais de uma cor ou de outra, ouve sons de uma certa maneira, gosta mais de certos sons do que de outros, etc. O que importa é que nada pode ser percebido por nós se não possuir propriedades espaciais; por isso, o espaço não é algo percebido, mas é o que permite haver percepção (percebemos lugares, posições, situações, mas não percebemos o próprio espaço). Assim, o espaço é a forma a priori da sensibilidade e existe em nossa razão antes e sem a experiência.

Também só podemos perceber as coisas como simultâneas ou sucessivas: percebemos as coisas como se dando num só instante ou em instantes sucessivos. Ou seja, percebemos as coisas como realidades temporais. Não percebemos o tempo (temos a experiência do passado, do presente e do futuro, porém não temos percepção do próprio tempo), mas ele é a condição de possibilidade da percepção das coisas e é a outra forma a priori da sensibilidade que existe em nossa razão antes da experiência e sem a experiência.

A percepção recebe conteúdos da experiência e a sensibilidade organiza racionalmente segundo a forma do espaço e do tempo. Essa organização espaço-temporal dos objetos do conhecimento é que é inata, universal e necessária.

O entendimento, por sua vez, organiza os conteúdos que lhe são enviados pela sensibilidade, isto é, organiza as percepções. Novamente o conteúdo é oferecido pela experiência sob a forma do espaço e do tempo, e a razão, através do entendimento, organiza tais conteúdos empíricos.

Essa organização transforma as percepções em conhecimentos intelectuais ou em conceitos. Para tanto, o entendimento possui a priori (isto é, antes da experiência e independente dela) um conjunto de elementos que organizam os conteúdos empíricos. Esses elementos são chamados de categorias e sem elas não pode haver conhecimento intelectual, pois são as condições para tal conhecimento. Com as categorias a priori, o sujeito do conhecimento formula os conceitos.

As categorias organizam os dados da experiência segundo a qualidade, a quantidade, a causalidade, a finalidade, a verdade, a falsidade, a universalidade, a particularidade. Assim, longe de a causalidade, a qualidade e a quantidade serem resultados de hábitos psicológicos associativos, eles são os instrumentos racionais com os quais o sujeito do conhecimento organiza a realidade e a conhece. As categorias, estruturas vazias, são as mesmas em toda época e em todo lugar, para todos os seres racionais.

Graças à universalidade e à necessidade das categorias, as ciências são possíveis e válidas; o empirismo, portanto, está equivocado.

Em instante algum Kant admite que a realidade, em si mesma, é espacial, temporal, qualitativa, quantitativa, causal, etc. Isso seria regredir ao forno girando em torno do frango. O que Kant afirma é que a razão e o sujeito do conhecimento possuem essas estruturas para poder conhecer e que, por serem elas universais e necessárias, o conhecimento é racional e verdadeiro para os seres humanos.

É isso que a razão pode. O que ela não pode (e nisso inatistas e empiristas se enganaram) é supor que com suas estruturas passe a conhecer a realidade tal como esta é em si mesma. A razão conhece os objetos do conhecimento. O objeto do conhecimento é aquele conteúdo empírico que recebeu as formas e as categorias do sujeito do conhecimento. A razão não está nas coisas, mas em nós. A razão é sempre razão subjetiva e não pode pretender conhecer a realidade tal como ela seria em si mesma, nem pode pretender que exista uma razão objetiva governando as próprias coisas.

O erro dos inatistas e empiristas foi o de supor que nossa razão alcança a realidade em si. Para um inatista como Descartes, a realidade em si é espacial, temporal, qualitativa, quantitativa, causal. Para um empirista como Hume, a realidade em si pode ou não repetir fatos sucessivos no tempo, pode ou não repetir fatos contíguos no espaço, pode ou não repetir as mesmas seqüências de acontecimentos.

Para Kant, jamais poderemos saber se a realidade em si é espacial, temporal, causal, qualitativa, quantitativa. Mas sabemos que nossa razão possui uma estrutura universal, necessária e a priori que organiza necessariamente a realidade em termos das formas da sensibilidade e dos conceitos e categorias do entendimento. Como razão subjetiva, nossa razão pode garantir a verdade da Filosofia e da ciência.

Extraído da obra :

Convite à Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

Immanuel Kant (1724 - 1804) e o juizo sintético a priori

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Um dos maiores gênios da filosofia moderna , teve uma vida longa e tranquila dedicada a filosofia . Homem metódico e de hábitos arraigados , lecionou durante quarenta anos na Universidade de Königsberg, somente deixando o magistério por questões de saúde. Morreu sem jamais se afastar das imediações de sua cidade natal.
Em sua obra Crítica da Razão Pura , ele tratará da questão do conhecimento e fará um síntese entre o racionalismo de Descarte e o empirismo de Hume.
Há dois tipos de conhecimento ( a posteriori): aquele que é dados pelos sentidos. E o conhecimento a priori: aquele que não depende de quaisquer dados do sentido, nascendo do puro uso da razão: duas linhas paralelas jamais se encontram no espaço. É uma afirmação universal e não depende da confirmação dos meus sentidos numa condição específica.
Para Kant o conhecimento a priori conduz a juízos universais e necessários, enquanto que o a posteriori não possue essa característica.

Kant ainda classifica os juízos em analíticos e sintéticos:

Juízo analítico: é aquele em que o predicado já está contido no sujeito, basta uma simples análise para que façamos tal dedução, vejamos este exemplo, " O quadrado tem quatro lados ", no sujeito da frase " quadrado" já está presente o predicado "quatro lados".

Juízo sintético: é aquele em que o predicado não está presente no sujeito. Neste o predicado traz algo novo ao sujeito: Por exemplo, " A rua está molhada".

Kant faz uma síntese entre o juízo analítico e o sintético e criará o :

Juízo sintético a priori: é o mais importante pois traz algo que dependerá dos meus sentidos, mas que possibitará eu construir uma validade universal e necessária. Seu predicado acrescenta novas informações ao sujeito , possibilitando uma ampliação do conhecimento. Segundo Kant , a matemática e a Física são disciplinas científicas por trabalharem com juízos sintéticos a priori.

A valorização que Kant atribui ao papel do sujeito ( possuidor das categorias apriorísticas) no ato de conhecer representou na filosofia , uma revolução comparável à de Copérnico, na Física.
Antes de Kant se afirmava que a função da nossa mente era assimilar a realidade do mundo.Nessa operação , alguns somente consideravam importante a atividade mental do sujeito,enquanto outros ressaltavam o papel determinante do objeto real exterior. Kant tentou formular a síntese entre sujeito e objeto, mostrando que, ao conhecermo a realidade do mundo, participamos da construção mental deste.

Texto baseado no texto sobre Immanuel Kant no livro Fundamentos da filosofia de Gilberto Cotrim.

David Hume (1711-1776)

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Faremos uma síntese deste filósofo escocês que através de sua mais famosa sobra Investigação sobre o entendimento humano, formulou sua teoria do conhecimento.
Todos os conteúdos da mente não são senão percepção dividindo em duas classes:
Impressões: sensações, paixões e emoções quando aparecem pela primeira vez em nossa alma.
Idéia: são imagens enfraquecidas da percepções .
Hume nega a idéia dos universais e coloca que as idéias nada mais é que a imagem, individual e particular.
Como acontece a idéia ser usada como validade universal? Hume responderá que isto ocorrerá pelo hábito.Por exemplo, uma vela acesa que ao contato com o papel o queima. Tal repetição cria a idéia do poder do fogo.
A-São simples relações de idéias toda aquela preposição que se limitam a operar com base em conteúdos matemáticos , geometria. Baseiam-se no princípio de não-contradição.
B-Dados de fatos : nunca implica uma contradição, sendo concebido pela mente como se fosse extremamente conforme a realidade.

Crítica a causa e efeito:

Nenhuma análise da idéia de causa, por mais aguçada que seja , pode fazer descobrir a priori o efeito . Todo fundamento de causa e efeito está com base na experiência. Pelo hábito posso saber a causa e efeito : vela - papel ( como exemplificado acima).

Podemos ver que tanto o pensamento de Hume como de Locke depende da experiência para que possamos formar nosso conhecimento. Esta linha de pensamento ficou conhecida como empirismo, isto é , aquele que depende da experiência, ao contrário, do pensamento Cartesiano que validará seu conhecimento na razão, no conhecimento a priori, isto é, que não depende da experiência externa.

Jonh Locke(1632-1704) e a questão do conhecimento

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Locke decepcionou-se com a Aristóteles e com escolástica medieval , enquanto tomava contato com pensamento de Francis Bacon e Descarte. Em sua obra Ensaio sobre o entendimento humano ele dirá que quando nascemos nossa mente é uma tábula rasa , um papel em branco. Assim não existe nada até que tomemos contato com o mundo através dos sentidos e a partir dele vamos construindo nosso conhecimento. Nossas primeiras idéias das coisas vem através dos nossos sentidos : quente e frio, as cores, o mole e duro, amargo e doce . Assim , pela combinação de tais conhecimentos que vamos adquirindo nossa mente através do ato da reflexão vai construindo conceitos à respeito das coisas. Assim , Locke define a reflexão como nosso sentido interno, que se desenvolve quando nossa mente se debruça sobre si mesma, e faz sua análise das coisas.
Assim, é fundamental para que a mente tenha conclusões de suas reflexões os objetos externos que são conhecidos pelos sentidos.
Podemos ver que há uma grande diferença entre o pensamento de Descarte e Locke, enquanto um vai valorizar a razão em detrimento das sensações , o outro afirmará que a razão enquanto tal é totalmente depende dos nossos sentidos para existir.

Hemerson

Descarte ( 1596 - 1650 )

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Descarte é considerado o pai da filosofia moderna pela revolução e originalidade de suas idéias. Apesar de ter estudado em colégio Jesuíta e tomar conhecimento da filosofia e conhecimentos vigentes na época, algumas questões durante o período de sua vida fez com que fosse levado a desconfiança do conhecimento por ele adquirido e tornou-se um terrível crítico da escolástica como veremos.
Diante do erro do sentidos , tomemos como exemplo a questão o heliocentrismo que quase levou Galileu à fogueira, Descarte propõe a desconfiar-se de todas as coisas, mesmo de sua própria existência para a partir daí tentar chegar a algumas conclusões.
A primeira verdade que Descarte conclui e da qual não pode negar está no fato de que negação da sua própria existência válida-lhe o ato de pensar, e assim a sua própria existência. Assim chega a sua máxima " cogito ergo sun" , penso logo sou , isto é , existo. É interessante que está conclusão é feita a partir do pensamento e independe da razão, por isso , ele será conhecido como filósofo racionalista.
Descarte ainda fará uma crítica ferrenha a lógica Aristotélica, pois segundo ele não traz nada de novo, vejamos um exemplo desta lógica:

Todos os homens são mortais
Sócrates é um homem
Logo, Sócrates é mortal

Segundo Descarte, não precisaríamos nem mesmo da terceira premissa, uma vez que partindo do conceito universal, Todos os homens são mortais, a terceira já está de forma intrínsica na segunda " Sócrates é um homem ".
Assim tal lógica não traz nada de novo para a ciência.
Descarte proporá um método para que possamos chegar a verdade , que ficou conhecido como método cartesiano, vejamos passo a passo:

1º) Clareza e distinção (“nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum para duvidar dele”;
2º) Análise (“repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las”, chegando aos elementos mais simples);
3º) Ordem (“o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não precedem naturalmente uns aos outros”. Defende a dedução como forma de ampliar o saber, do mais simples ao mais composto) ;
4º) Enumeração (“efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir”. Para que todos os elementos sejam considerados e para verificar se a visão total está de acordo como as regras que foram aplicadas).

É importante ressaltar que diante da dificuldade que temos de conhecer o que está fora do pensamento, isto é , a realidade externa, precisamos dominá-la a fim de obtê-la seu total domínio. Isto acaba por provocar um distanciamento do ser ante a natureza. Como veremos mais a frente, muitos filósofos contemporâneos, principalmente os da escola de Frankfurt, criticarão está dualidade entre o res cogita ( coisa pensante) e o res extensa ( coisa extensa ) corpo e matéria e suas consequencias.

Hemerson

Francis Bacon( 1561 - 1626)

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Preocupado com a utilização dos conhecimentos científicos na vida prática, manifestava grande entusiasmo pelas conquistas técnicas que se difundiam em seu tempo: a bússola, a pólvora e a imprensa. Por outro lado , revelava sua aversão ao pensamento meramente abstrato, característica da escolástica medieval.
Segundo ele, a ciência deveria valorizar a pesquisa a pesquisa experimental, tendo em vista proporcionar resultados objetivos para o homem. Mas , para isso , era necessário que o cientista se liberasse daquilo que ele denominava "ídolos", isto é, as falsas noções, os preconceitos, os maus hábitos mentais.
Em sua obra Novum Organum, destaca quatro gêneros de "ídolos" que bloqueiam a mente humana, denominando-os: ídolos da tribo, da caverna( alusão ao mito da caverna), do mercado e do teatro.

Ídolos

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em quatro grupos:

1) Idola Tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana. Astrologia, alquimia e cabala são exemplos dessas generalizações;

2) Idola Specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma alusão à alegoria da caverna platônica;

3) Idola Fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;

4) Idola Theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.


Extraído:

Fundamentos da filosofia , Gilberto Cotrim e em relação as citações à respeito dos Ídolos foi do site: http://pt.wikipedia.org